Comprar livros, Redes tóxicas, BookTok, Heteropessimismo, Scarlett Johnasson, Sexo e a nova geração
Enquanto terminava de editar essa edição da newsletter, confesso que quase detonei uma barra inteira de chocolate com castanha de caju e banana (não vou dizer a marca porque não me pagam nada, pelo contrário). E café. Sempre café. Café requentado da manhã, mas é café.
A notícia do momento na minha bolha é a matéria publicada pela New York Magazine sobre as acusações de abuso, assédio e estupro que o escritor Neil Gaiman está recebendo. Confesso que não li, mas li a opinião do Alex Castro e gostei do que ele escreveu. Não posso dizer que sou um fã do Gaiman, li coisas do Sandman e seus contos, e gosto de algumas entrevistas onde ele conta sobre seu processo criativo. Mas óbvio que, se ele for realmente culpado pelas coisas que estão dizendo que cometeu (e parece que é), então que siga escrevendo da cadeia. Pior que corre até o risco dele gostar.
Acho sempre útil pensar sobre a relação Obra vs. Autor. Tem quem consegue separar e quem não. Eu consigo. As razões e reflexões sobre isso rendeu um episódio de quase 18 minutos no meu podcast (foi um dos mais escutados).
No final de 2024 lancei um texto sobre os livros que li durante o ano. Lamentei que não foram muitos e esbocei uma reflexão sobre ler nos tempos hipermodernos.
“Seria ingênuo ignorar como a cultura do scroll infinito tem afetado minha capacidade de concentração. Mesmo aqueles que se consideram imunes aos apelos das redes sociais sentem seus efeitos na capacidade de manter uma atenção sustentada. (...) Percebo minha mente mais inquieta durante a leitura. (...) Qual o remédio pra isso?”
Eu publico pouco por aqui e tenho motivos pra isso. Faço quando tenho tempo, quando tenho algo pra dizer, quando sinto necessidade de compartilhar algo da minha mesa com vocês. Não cobro dinheiro por isso, não ganho a vida com isso, se fosse o contrário, provavelmente assumiria isso como um trabalho e publicaria mais. Mas, sobretudo, publico pouco porque tenho um certo acanhamento de, em uma internet superlotada de informação e conteúdo, acrescentar ainda mais coisas. Às vezes me vêm a imagem do lixo espacial flutuando na órbita da Terra. A insaciável máquina de posts não pára.
Pois bem. Aqui está mais uma edição escrita e organizada com muito cuidado com coisas para ler, para ver e para ouvir e aguardando comentários de vocês sobre tudo isso e também sobre o que andam lendo, vendo e ouvindo por aí.
Beijo no abraço!
📘 PARA LER
Ainda estamos aqui - O artigo da piauí explora a conexão entre o livro de Marcelo Rubens Paiva e sua adaptação cinematográfica por Walter Salles, enquanto analisa como essas narrativas refletem o Brasil de hoje. É um mergulho profundo em questões de memória, justiça e arte.
Comprar Livros: Uma Aposta no Futuro - Alex Castro nos convida a repensar o hábito de adquirir livros. Será que comprar mais livros do que lemos é mesmo um problema? Ou é uma maneira de investir em sonhos e possibilidades futuras?
Redes Tóxicas - CartaCapital traz uma análise sobre como as redes sociais moldam nossos comportamentos e relações de maneira muitas vezes nociva. O texto aborda os impactos desse cenário na saúde mental e na maneira como enxergamos o mundo.
BookTok e o Boom do Mercado Editorial Jovem - A Gama Revista discute como o TikTok tem revolucionado o mercado de livros, conectando novos leitores e ressuscitando clássicos. Um fenômeno cultural que une literatura e redes sociais em um movimento surpreendentemente poderoso.
Os Homens nas Narrativas - Em um mundo distorcido pela perspectiva de personagens complexos, a série Disclaimer transforma homens em figuras misteriosas, às vezes perigosas. Um texto da Folha trata de como essas imagens literárias refletem questões contemporâneas. Leia mais aqui.
Abstinência Moderna - Eu nunca tinha ouvido falar sobre “heteropessimismo” antes. Depois de ler sobre, fez muito sentido. Em sua newsletter, Isadora Sinay questiona as tendências atuais de autocontrole e restrição, analisando como essas práticas refletem ansiedades sociais e mudanças nos valores contemporâneos. “Vários dos entrevistados relatam que depois que abriram mão de namorar eles começaram a viver mais a vida. Dar atenção para amizades, estar presentes em show, construir hobbies. O que me leva a pensar que antes elas eram completamente desinteressantes? Como você pretende encontrar alguém para dividir a vida se você não tem uma vida para começar? Como você quer que alguém se interesse por você se, aparentemente, você sequer é uma pessoa?”
📺 PARA VER
Você está recebendo o que quer? - Erico Borgo se sentiu um idiota depois de uma hora rolando o feed no Instagram, preso pelos mecanismos de vício, em busca de algo que eu nem sabia o que era. Era apenas a microdose de dopamina diária. Neste vídeo ele reflete sobre o funcionamento das redes sociais e seus algoritmos, propondo um olhar crítico sobre como a tecnologia molda nossas interações.
Scarlett Johansson não tem Instagram - E ela explica por quê.
Não sou a Branca de Neve - A psicanalista Mariana Ribeiro fala no Sem Censura sobre como o ciúme e a inveja estão presentes e nos afetam diretamente nas redes sociais. “Num mundo que faz a gente se sentir fragilizado, substituível, a monogamia promete um microcenário em que você venceu todas as competições, você foi o escolhido, você é o mais mais da minha vida, você está no topo da pirâmide (...) é o antídoto contra a fragilidade narcísica dos nossos tempos.”
É assim que vocês flertam? - Quando temos muitas opções de escolha, fica mais difícil de escolher? E quanto de fantasia existe no processo de paquera, ela ajuda ou atrapalha?
“Eu preciso do outro” - O psicanalista André Alves fala sobre o impacto que encontros inesperados podem trazer para as nossas vidas e a importância do outro no processo de aprendermos a nos relacionar. “Os encontros mais inesperados podem produzir uma das coisas mais preciosas da experiência humana que é: convocar a vida no outro. (...) A gente aprende a viver em relação.”
🎧 PARA OUVIR
Ler e Escrever: Imposturas Filosóficas - Ler e escrever são maneiras de conversar. Pela leitura, a gente conversa com alguém que tem um contorno definido, minimamente conhecido. Já na escrita, a gente conversa com um outro do qual não sabemos absolutamente nada. Neste episódio do podcast Imposturas Filosóficas, reflexões sobre a escrita e a leitura para quem quer aprofundar sua relação com as palavras.
Sexo e a Nova Geração - “O sexo perdeu a importância para os mais jovens”. No podcast da Gama Revista, o antropólogo Michel Alcoforado aborda como os jovens estão reavaliando a importância do sexo em suas vidas. Um debate instigante sobre mudanças culturais e transformações comportamentais.
"Birthday Party" do Vines - O novo projeto de Cassie Wieland é descrito como "doce e brilhante" pelo New York Times. Misturando vocais processados e texturas experimentais, o álbum cria um universo sonoro que é ao mesmo tempo íntimo e grandioso.
"An Afternoon Whine" de Claire Rousay e More Eaze - Música boa para relaxar, criar, trabalhar, cozinhar, ler, tomar um vinho… Uma colaboração atmosférica que combina sons ambientes e melodias sutis, criando uma experiência auditiva hipnotizante.
"Please Be Mine" - Molly Burch - Primeiro álbum de estúdio produzido por Burch traz ideias e referências que passeiam por diferentes décadas e tendências. São apenas dez faixas onde ela faz dos seus próprios conflitos um instrumento de comunicação com o público. Confissões amorosas, medos e tormentos que se espalham em meio a guitarras e vozes enevoadas.
"La Noche Eterna" do El Mato a Policia Motorizado - Compartilhando aqui só porque repeti essa música umas trezentas vezes.
📘 LIVRO
A biblioteca no fim do túnel: Um leitor em seu tempo - Rodrigo Casarin
Com a intimidade de quem dedica a vida a escrever sobre livros, o jornalista Rodrigo Casarin circula por uma extensa e variada biblioteca, conduzindo os leitores entre clássicos, contemporâneos, quadrinhos, leituras inesquecíveis, incômodas ou empacadas. Em crônicas que exploram dilemas corriqueiros da vida entre os livros, o autor narra com bom humor e sem rodeios suas próprias experiências como leitor. A biblioteca no fim do túnel é uma conversa descontraída em que a literatura é inseparável do cotidiano, das eternas inquietações humanas e da busca por prazer.
✍🏼 FRASE
A maior e mais oculta verdade do mundo é que ele é algo que nós criamos e que podemos facilmente recriar de outra maneira.
— David Graeber
💾 ARQUIVO (Novembro de 2022)
Eu também acreditei na máxima “enquanto você está na festa tem alguém trabalhando em sua ideia” e deixei de ir numa festa, de ver um filme, de namorar e de sair pro bar para trabalhar no meu projeto e assim alcancei resultados que sem foco e concentração eu não conseguiria.
📘Baixe meus livros de graça: Após ler um ensaio do jornalista Alexandre Matias sobre um disco do Radiohead e assistir uma entrevista com o escritor Daniel Pellizzari, decidi disponibilizar todos os meus livros gratuitamente em formato digital no meu site.
Desde Nomedacousa e Ornitorrinco sempre vejo suas coisas e me interesso, não por todas, bastante. Legal te ler aqui também. Um abraço.
confesso que, às vezes, tenho dificuldade de separar autor e obra. racionalmente, deveria, mas, emocionalmente, nem sempre é fácil.